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Lançamento do livro 15 Odes Ocas, de E. M. de Melo e Castro
26 de Outubro 2013, 16:00h
Livraria Pinto dos Santos
Rua de Santo António, 137
Guimarães
«
Ernesto M. de Melo e Castro é – a sua fisionomia não o desdiz – um profeta laico, responsável por algumas das mais radicais reinvenções do que se foi, entre nós, entendendo por escrita, e um patriarca, que cultivou pelos quatro cantos do mundo vasta descendência literária e teórica (hoje, já com barbas). O concretismo, que ajudou a criar, foi a sua escola; o experimentalismo, a sua musa; a “reinvenção poética da liberdade”, a sua divisa. Este profeta, que trata por tu Camões e Pessoa, e que decidiu ser barroco para ser do seu tempo, deixou em Portugal uma bibliografia vastíssima (creio serem já mais de oitenta os livros publicados), além de happenings, performances, exposições e um sem número de outras intervenções de que se fez a sua incansável militância política e cívica, cuja amplitude e importância continuam por avaliar. Dessa torrente criativa própria dos patriarcas, pouco se fez, pouco se disse e menos se compreendeu. Extenso e multifacetado, o percurso de Melo e Castro é, como ele próprio o define, glosando Ezra Pound, feito de “pontos luminosos”, de fragmentos, contra a especialização; porque como diz ainda Pound, “aquele que se especializa deixa de ver os contornos. I punti luminosi... É preciso lutar contra a ofuscação da história”. A obra de Melo e Castro apresenta-se, assim, como uma ampla constelação de propostas que se expandem em múltiplas direcções de pesquisa e interrogação; ou, como escreve Goethe, citado por Melo e Castro: “Se queres caminhar para o Infinito anda para todos os lados do Finito”.
As 15 ODES OCAS que agora se publicam põem a nu os paradoxos e contradições do nosso tempo e das suas representações, acertando com um tiro certeiro na banalidade do presente. A crise a que Ernesto M. de Melo e Castro submete as palavras é a mesma que atravessa todo o seu trabalho, procurando preencher as expressões vazias (ocas), que bem conhecemos, com a metade de nada. O que com isto se recorda é que a invenção poética da liberdade só é realizável se assumirmos uma reinvenção livre da poesia: é essa a liberdade de ser escrita todo o acto de leitura.»
-- António Preto
como espécie de introdução
&
epígrafe propositada
ODE pequena AO OCO
oco não é sinónimo de vazio
mas sim cheio de nada
ou então
oco é o que só tem superfície
mas que está cheio de si
ou então
oco é o que por dentro
só tem superfície
ou então
oco é o que tem o nada
até na superfície
e por isso denuncia o vazio
onde ele estiver
-- E. M. de Melo e Castro, 15 Odes Ocas.